
"I'm disgusted and repulsed, and I can't look away"
Não vi Clerks, mas esta sequela, 12 anos depois, encheu-me todas as medidas. Uma comédia arriscada que terá, à partida, um público muito específico. Facilmente se detesta Clerks II, ou facilmente mentes mais conservadoras ficarão ofendidas por alguns dos temas abordados no filme, mas, isso é o que torna o argumento de Kevin Smith tão particular. Quem já viu Chasing Amy ou Dogma sabe o que esperar de um filme deste realizador/actor.
Conversas em redor do sexo e das suas perversões, comentários racistas, muita discussão sobre cinema e ainda referências polémicas à bestialidade são alguns dos condimentos que formam este filme. Obviamente, nada é contado de uma forma banal e a aguçada escrita de Kevin Smith debruça-se, de uma forma particarmente inteligente, sobre assuntos aparentemente mundanos e grosseiros.
Clerks, na sua tradução para o português, quer dizer caixeiros, os chamados "caixa" nos supermercados ou nos restaurantes de fast-food. E a história do filme é sobre isso mesmo, dois amigos, com 33 anos, que continuam a trabalhar atrás de um balcão enquanto assistem aos anos a passar, sem fazerem nada de importante com eles. Os personagens são, acima de tudo, reais. Não têm ar de vedetas de Hollywood, são assumidamente feios e cheios de complexos e dúvidas e é isso que nos faz gostar tanto deles. Não sabem o que querem da vida porque, no fundo, quase ninguém sabe. Ainda em relação aos actores fiquei totalmente abismado com Rosario Dawson que, para além de ser sexy para além da compreensão, tem um carisma enorme (que eu lhe desconhecia).
Um dos momentos mais hilariantes do filme é uma discussão sobre qual a mais importante triologia no cinema, Star Wars ou Lord of the Rings. É de rir até às lágrimas, especialmente por culpa de Trevor Fehrman que encarna na perfeição o papel de
nerd.
Clerks II arrisca-se assim a entrar directamente para o lugar de clássico desta era e a consagrar Kevin Smith como um dos mais audaciosos argumentistas.